Imagens mostram adolescente canadiano em desespero
Foi divulgado ontem aquele que é o primeiro vídeo a ser conhecido de um interrogatório conduzido em Guantánamo. As imagens, captadas em 2003, mostram o desespero de Omar Khadr, um adolescente canadiano, então com 16 anos, pedindo aos oficiais enviados por Otava para o ajudarem a regressar a casa. Seis anos depois, Omar é o único ocidental ainda detido no presídio militar norte-americano.
As imagens – que prometem aumentar a pressão sobre o Governo de Otava – foram divulgadas hoje pelas televisões e sites do país, depois de em Maio um tribunal federal ter determinado que os advogados de Omar, detido em 2002 no Afeganistão, tinham direito de aceder às transcrições e gravações dos interrogatórios conduzidos por agentes canadianos enviados a Guantánamo.
Ao todo, os serviços de informação entregaram à defesa as transcrições de várias horas de interrogatório, realizados ao longo de vários dias. Ontem, a imprensa transmitiu diferentes partes de um excerto de dez minutos (o vídeo integral só deve ser divulgado mais tarde pelos advogados), referente ao segundo dia das inquirições. As imagens mostram Omar Khadr, acabrunhado e angustiado, sentado numa cadeira frente a dois oficiais do Serviço de Informações e Segurança Canadiano (CSIS), a quem pede repetidamente ajuda e se queixa da falta de assistência médica. Num dado momento, o jovem tira a t-shirt laranja para mostrar as cicatrizes sofridas no Afeganistão e, perante a indiferença dos interrogadores acusa-os repetidamente: “Vocês não querem saber de mim, Vocês não querem saber de mim”.
O advogado Nathan Whitling escreve num comunicado divulgado em simultâneo com o vídeo que o jovem acreditava que os oficiais canadianos estavam em Guantánamo para o ajudar. “Omar surge feliz e muito cooperante no primeiro dia, mas ao segundo [14 de Fevereiro de 2003] percebe que os agentes do CSIS não vão fazer nada para o ajudar e entra em desespero”. As imagens, de má qualidade (terão sido captadas por uma câmara oculta no sistema de ventilação) não mostram maus tratos ao detido e um dos funcionários pede mesmo ao jovem para comer, admitindo que ele sob stress, mas nada diminui o desespero de Omar, que em alguns momentos chega a esconder a cara nas mãos e a arrancar cabelos.
Documentos revelados já este mês mostram que nas três semanas anteriores aos interrogatórios, o jovem tinha sido privado de sono, sendo mudado de cela a cada três horas, uma técnica destinada a torná-lo mais cooperante com os investigadores canadianos. O ministério dos Negócios Estrangeiros canadiano estava a par deste método, como comprova um relatório redigido por um funcionário daquele ministério após uma visita ao presídio militar onde os EUA chegaram a manter mais de 600 suspeitos de terrorismo.Khadr foi capturado no Afeganistão em 2002, sendo acusado de lançar uma granada que matou um soldado americano e feriu outro durante um combate com militantes da Al-Qaeda, tendo sido posteriormente atingido com dois disparos nas costas.
Detido durante vários meses na base militar de Bagram, onde diz ter sido sujeito a maus tratos, foi transferido no início de 2003 para a base de Guantánamo, em Cuba, estando o início do seu julgamento previsto para Outubro, seis anos após ter sido detido.Os advogados de Omar e as organizações de defesa dos direitos humanos esperam que a divulgação das imagens aumente a pressão sobre o Governo canadiano, para que este consiga o repatriamento do jovem, hoje com 21 anos.
In: publico.pt